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TEXTOS

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Carlos Matuck - Autorretrato polonês

 

              Uma das experiências mais ricas da viagem realizada pelo artista plástico Carlos Matuck à Polônia, em 2009, foi a composição de um autorretrato poético que mescla duas das paixões deste criador de imagens: o amor pelo papel e pela caligrafia. O resultado é um conjunto a ser montado como uma espécie de quebra-cabeças.

              Cada um desses fragmentos traz em si um breve texto com uma caligrafia nem sempre decifrável. De fato, isso é o menos importante num primeiro momento, pois o que vale mais é a magia do papel e das cores da tinta, o diálogo entre as pinceladas e tonalidades e as diversas formas de tratar o suporte, com aguadas.

              A presença da letra é uma questão, acima de tudo, estética. Existe ali uma escrita, sem dúvida, mas o objeto plástico final é o que mais fascina pela maneira como os caracteres são dispostos e pela intensa liberdade do conjunto. O essencial é penetrar nesse diário com a mesma delicadeza que ele foi constituído.

              No pequeno caderno de viagem de Carlos Matuck, as frases estão escritas com letra legível. Trata-se de um registro poético da jornada por terras polonesas, que vale como reunião de percepções como ser humano e como artista, num universo de sombras e sensações do tempo. O passado vivido e o sentido constroem um diário íntimo.

              Mostrar a criação plástica e o texto nela registrado valoriza ambos. A jornada com tinta e letras se articula numa doce conversa, que vence o tempo e conquista o espaço da memória e da sensibilidade. Como ensinam Borges e Calderón de La Barca – e o trabalho de Carlos Matuck confirma – o melhor de viajar é que ali tudo atinge a dimensão do sonho. 

 

Oscar D’Ambrosio

 

Jornalista e mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp,

integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA- Seção Brasil)

2009 

Veja série completa: Autorretrato em Marianowo

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